terça-feira, 25 de março de 2008

TRABALHO x EMPREGO x DIGNIDADE

De acordo com o Aurélio, de forma geral, trabalho consiste na aplicação das forças humanas para alcançar determinado fim. É também entendido como a atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento. Emprego é seu sinônimo. A noção de emprego assemelha-se a um conjunto onde o subconjunto é o trabalho. É a maneira de prover a subsistência mediante ordenado, salário ou outra remuneração a que se faz jus pelo trabalho regular em determinado serviço (Aurélio, 2004). Dignidade, também segundo este renomado dicionário, nada mais é do que respeito a si mesmo, amor-próprio, decoro, decência.

Pois bem. Desde a Primeira Revolução Industrial que o homem vem sendo transformado em mero objeto executor de trabalho, obtendo um emprego para que tenha dignidade perante a sociedade. O trabalho é pressuposto de dignidade, já que quem não trabalha ou não ganha sua vida com trabalho honesto, não é digno. Em seu livro A Conduta para a Vida, Ralph Waldo Emerson ensina que ao se introduzir um homem num ambiente novo, a primeira pergunta que surge é como ele ganha a vida, pois enquanto ele não ganhar a sua subsistência honestamente, não será verdadeiramente homem. Dessa forma, inquiro-me frequentemente quanto ao entendimento e legitimidade dessa “compra de dignidade”. Ora, somente é digno aquele que trabalha e que se mantém. Sendo assim, impreterivelmente eu digo que trabalho, mas nem de longe meu trabalho me oferece condições sustentáveis para que eu possa adquirir minha liberdade. Portanto, nessa lógica, não tenho dignidade. Várias perguntas podem surgir, mas para todas estas eu tenho uma simples resposta: a culpa é do empresário.

Particularmente em Sergipe, província na qual atualmente, e espero que provisoriamente, resido, não considero que haja empresários. Há comerciantes que se valem da força de trabalho em excesso e da necessidade das pessoas de obterem seus próprios sustentos para explorá-las. Essa visão somente poderia advir de pessoas retrógradas e que não vêem seus funcionários como colaboradores, mas como escravos, pagando um mínimo, mas cobrado o máximo, criando e mantendo um círculo vicioso que destrói por completo a auto-estima de qualquer indivíduo que tenha o mínimo de discernimento, qualidade esta que é evitada. Aqui se necessita não de pessoas que sejam hábeis e preparadas, mas de pessoas que apenas sejam NECESSITADAS.

Com isso cria-se uma prisão que deriva da relação NECESSIDADE-TRABALHO. Recentemente, em conversa com meu pai, que não tem chefe, me foi relatado que certa vez um amigo dele, que é empresário, afirmou que não paga bem aos seus funcionários por um simples motivo: os mantém presos. Como presos? Segundo ele, ganhando pouco, eles não terão como guardar dinheiro e, eventualmente, com a poupança, não poderão pedir demissão e usufruir da economia enquanto não encontra algo melhor para fazer. É com essa visão que o meio em que vivo impulsiona a economia.

Não vejo dignidade, não vejo decoro, decência na vida comercial e econômica da minha região. A cultura escravista ainda ronda os pensamentos das oligarquias que aqui nos sugam. O proletário nunca será visto com dignidade por nenhum empresário, principalmente se for de Aracaju.

Pra finalizar, quero tornar público, como forma de protesto, o meu pedido de DEMISSÃO VOLUNTÁRIA da empresa em que trabalho. Faço isso em homenagem a todos aqueles que infelizmente não têm condições de fazê-lo.

Ainda acredito que o trabalho dignifica o homem.

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